A importância do solo na sustentabilidade do Montado

A importância do solo na sustentabilidade do Montado. Comparação entre a Herdade da Abegoaria e uma herdade vizinha.

Comparação das condições do ecossistema entre a Herdade da Abegoaria (à esquerda) e uma herdade vizinha (à direita).

O montado é um sistema agro-silvo-pastoril muito adaptado às condições do território. A componente silvo-pastoril, floresta e pastagem, ocupa normalmente os solos com fertilidade mais frágil, sendo os melhores solos reservados para a componente agrícola.

1. As ameaças ao Montado

O Montado encontra-se em grande stress. Cerca de 84% das pastagens são pobres (INE, 2013), a mortalidade das árvores é alarmante e a superfície das parcelas agrícolas reduziu-se para menos de metade nos últimos 30 anos.

2. As alterações climáticas

A diminuição de precipitação, particularmente na Primavera, e o aumento da temperatura são razões importantes para o declínio das árvores e para a redução da superfície dedicada às culturas aráveis. As árvores são obrigadas a viver das suas reservas por um período mais longo e a probabilidade de insucesso das culturas anuais aumentou.

3. A melhoria das funções do solo

O solo desempenha funções essenciais ao funcionamento de qualquer ecossistema e, assim, ao Montado. Entre essas funções temos: a regulação do ciclo da água, o fornecimento de nutrientes às plantas e a sua protecção contra agentes patogénicos.

A precipitação efetiva, aquela que de facto se infiltra no solo, depende da taxa de infiltração do solo. As perdas de água por escorrimento podem ser superiores às perdas por diminuição da precipitação média registada nos últimos 30 anos. E é fundamental aumentar o armazenamento de água útil do solo, de forma a fazer face à irregularidade do clima Mediterrânico.

A produção de biomassa, para o crescimento das pastagens e das árvores, assim como a constituição de reservas das árvores que lhes permite sobreviver durante o Verão estão muito dependentes da nutrição das plantas, ou seja, da capacidade do solo em cumprir esta função.

A biodiversidade dos micróbios do solo, que está muito associada à biodiversidade da flora, é uma componente fundamental na resiliência do sistema aos ataques de parasitas e doenças, seja pela competição entre os diferentes micróbios, seja por melhorarem a respostas imunológica das plantas.

4. A estratégia para o solo do Montado

As funções do solo dependem das suas propriedades químicas, físicas e biológicas, nas quais estão envolvidos um elevado número de parâmetros. Mas o mais importante destes parâmetros é o teor de matéria orgânica do solo, pois este condiciona todas as funções descritas. Investir no seu aumento é essencial para garantir a sobrevivência de todo o sistema. Para o efeito é necessário conseguir-se um aumento da biomassa produzida, uma devolução significativa desta ao solo e, reduzir as perdas de matéria orgânica, seja por mineralização seja por erosão.

A correcção da acidez do solo é prioritária para se conseguir o aumento do crescimento e da diversidade das plantas que constituem o estrato herbáceo, ou seja, das pastagens. O seu pastoreio pelos animais garante um aumento da devolução de carbono orgânico ao solo.

A ausência de mobilização do solo é essencial para a redução das perdas de matéria orgânica. Assim, a implementação de sistemas de agricultura de conservação (sementeira directa, rotação de culturas e cobertura permanente do solo com resíduos) nas culturas herbáceas (sementeira de pastagens, forragens e culturas para grão), e a utilização de roça matos, complementada com a eventual utilização de herbicidas no controlo de matos, são as estratégias a introduzir urgentemente no Montado.

5. Casos concretos

Na Herdade da Abegoaria, localizada entre Vendas Novas e Canha, a estratégia para o solo descrita permitiu a reversão do declínio do sistema. A melhoria de fertilidade do solo travou a erosão, aumentou o armazenamento da água e assim o aumento da produção da pastagem, o vigor das árvores e o sucesso da sua regeneração. Apesar da pobreza natural do solo, a sua correção e fertilização permitiu um grande vigor do todo o ecossistema.

Em oposição, numa herdade vizinha, são visíveis os sinais de perda de água por escorrimento e de perda de solo por erosão, que conduzem inevitavelmente à degradação de todo o ecossistema. A ausência do estrato herbáceo, resultante do controlo de matos por gradagens e da baixa fertilidade do solo, conduzem a elevadas perdas de água por escorrimento e de solo por erosão.

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Por:

Mário Carvalho

Professor Catedrático Aposentado da Universidade de Évora & Investigador MED
20 de abril, 2023

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